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Avanço na previsão da ocupação de áreas colonizadas por espécies invasoras

Para se prever o território ocupado por uma espécie, assim como as alterações que poderão ocorrerem em resultado de alterações climáticas ou do aparecimento de uma espécie invasora, é crucial compreender os factores que determinam a extensão desse território. O padrão de ocupação de uma área geográfica por uma espécie depende de factores fisiológicos da própria espécie, de barreiras físicas e de interações com outras espécies. Distinguir entre estes factores nem sempre é fácil, dificultando o trabalho de gestão e conservação da biodiversidade.

Uma equipa de investigadores brasileiros, australianos e do CIBIO – Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos, da Universidade do Porto, descrevem na prestigiada revista científica PNAS (Proceedings of the National Academies of Sciences, USA), uma nova abordagem em que, através de modelos conseguem explicar de que forma as interações com outras espécies (as chamadas interações bióticas) determinam os padrões de distribuição de uma espécie.

A equipa aplicou os modelos ao sapo cururu (Rinella marina), uma espécie oriunda da América do Sul e da América Central. Foi introduzido na Austrália em 1935 com o objetivo de controlar pragas da cana-de-açúcar, ficando, por isso, conhecido como o sapo-de-cana-de-açúcar. Na Austrália o sapo cururu expandiu o seu território: hoje ocupa mais de 1,2 milhões de quilómetros quadrados, sendo, paradoxalmente, considerado uma praga.

A equipa de investigadores descobriu que na Austrália o sapo cururu aumentou o seu território, ocupando zonas de clima mais seco e temperaturas extremas. Curiosamente, na América do Sul existem zonas com clima idêntico, no entanto o sapo não as ocupa. Segundo o modelo desenvolvido pelos investigadores, esta limitação territorial deve-se à presença de uma espécie de sapo semelhante, com a qual o sapo cururu hibridiza, estabelecendo assim uma interação biótica que limita a sua expansão para territórios vizinhos. Esta espécie semelhante não existe na Austrália, pelo que o sapo cururu tem liberdade para ocupar o chamado nicho fundamental.

A nova abordagem descrita neste estudo, que contou com financiamento da FCT, é aplicável a qualquer espécie ou ambiente, podendo contribuir marcadamente para o desenvolvimento de estratégias de gestão e conservação de espécies. Estas poderão passar pela identificação de agentes biológicos de controlo de espécies invasoras, ou pela previsão eficaz da capacidade de espécies nativas se adaptarem a alterações climáticas.

O CIBIO tem uma já longa colaboração com a Universidade Federal de Belém do Pará no Brasil, que será reforçada com a abertura oficial de um TwinLab. Será o segundo “laboratório gémeo” do CIBIO; o primeiro foi estabelecido com o Lubango, em Angola.