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IAstro traça perfil mais completo dos ventos de Vénus

Uma equipa constituída por investigadores do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IAstro), da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (Ciências ULisboa) e da Universidade de Sevilha publicou este mês um estudo na revista científica Atmosphere em que apresentam o conjunto de medições mais detalhado e completo alguma vez feito das velocidades dos ventos em Vénus paralelos ao equador e à altitude da base das nuvens. Algumas das medições realizadas foram inéditas e espera-se que possam contribuir para compreender as características singulares do planeta mais próximo da Terra e à qual é muito semelhante em termos de dimensão.

O estudo, liderado por Pedro Machado, do IAstro e Ciências ULisboa, procurou estudar o movimento das nuvens na atmosfera do lado noturno de Vénus – o lado que não está virado para o Sol, equivalente ao período da noite na Terra, que em Vénus, por causa do longo tempo de rotação do planeta (243 dias terrestres), tem uma duração muito maior. A combinação da observação a partir da Terra, com o Telescopio Nazionale Galileo (TNG), em La Palma, nas ilhas Canárias, com os dados recolhidos pela sonda Venus Express, da Agência Espacial Europeia (ESA), permitiu à equipa seguir o movimento das nuvens, recorrendo a um método desenvolvido por Javier Peralta, da Universidade de Sevilha, coautor do estudo, e calcular indiretamente a velocidade do vento que as impele a várias altitudes diferentes.

Um dos resultados, inédito, foi a medição simultânea da velocidade dos ventos a duas altitudes separadas de 20 quilómetros. A equipa verificou uma diferença na velocidade do vento cerca de 150 quilómetros por hora mais rápida no topo das nuvens. Sabe-se que a atmosfera de Vénus é peculiar, constituída por espessas nuvens que criam um efeito de estufa enorme, e que faz com que a temperatura junto ao solo atinja 460ºC. A superfície do planeta emite continuamente radiação infravermelha – a chamada emissão térmica – que aquece as camadas baixas da atmosfera. Nas palavras de Pedro Machado, a equipa conseguiu pela primeira vez “fazer o estudo da componente vertical do vento, ou seja, como é que é transportada a energia das camadas mais baixas, que estão mais aquecidas, para o topo das nuvens, e que vai levar à aceleração dos ventos”, contribuindo para explicar a relação entre a superfície extremamente quente e as velocidades ciclónicas das nuvens nas camadas mais altas da atmosfera de Vénus.

Com o sucesso desta abordagem, a equipa irá agora expandir a pesquisa da componente vertical dos ventos com novas observações através da sonda atualmente em órbita de Vénus, coordenadas com observações feitas a partir da Terra que, como comprovou este estudo, permitem complementar o estudo do planeta com dados que as sondas não conseguem obter. Para além disso, a experiência do IAstro e dos investigadores portugueses, na compreensão da dinâmica da atmosfera de Vénus, irá ajudar a escolher os comprimentos de onda de luz em que a missão EnVision, a próxima da Agência Espacial Europeia ESA dedicada a Vénus, irá observar, bem como as camadas da atmosfera mais relevantes do ponto de vista científico, contribuindo assim para o desenho e planeamento da missão e dos seus instrumentos. Portugal está envolvido no desenvolvimento desta nova missão, sendo o consórcio português liderado por Pedro Machado, e espera-se que esta participação permita mobilizar indústria portuguesa para mais um projeto internacional da ESA, com a perspetiva de apoio da Agência Espacial Portuguesa, a Portugal Space.

No site da IAstro encontra-se um artigo mais detalhado sobre o método e os resultados deste estudo.