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Os “Atores da política científica” em Portugal apresentados na FCT

A Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) acolheu uma conferência intitulada “Atores da Política Científica” nos passados dias 10 e 11 de Dezembro, a qual marcou a abertura do ciclo de conferências dedicado à História da Ciência e ao património dos arquivos. Este ciclo resulta de uma organização conjunta entre o Instituto de História Contemporânea (IHC) da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e o Arquivo de Ciência e Tecnologia da FCT.

Com um programa eclético e pragmático, o ciclo “Atores da política científica” evidenciou, por entre a variação de génios, a relevância profissional de médicos, na primeira metade do séc. XX, e de engenheiros, na segunda metade, na administração pública da Ciência e dos seus órgãos históricos em Portugal.

O painel de «Atores da política científica» foi composto por: Augusto Celestino da Costa (1884-1950), fundador do Instituto de Histologia e Embriologia da Faculdade de Medicina de Lisboa; Francisco de Paula Leite Pinto (1902-2000), primeiro presidente da Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica-JNICT e Ministro da Educação Nacional; Amândio Tavares (1900-1974), reitor da Universidade do Porto, Presidente da Associação Portuguesa para o Progresso das Ciências e fundador do Centro de Estudos Humanísticos; António Mendes Correia (1888-1960), antropólogo e arqueólogo, presidente da Junta das Missões Geográficas e de Investigações Coloniais e diretor da Escola Superior Colonial; Manuel Abreu Faro (1923-1999), presidente do Centro de Estudos de Electrónica e da Comissão de Estudos de Energia Nuclear; e Kaúlza de Arriaga (1915-2004), Subsecretário de Estado da Aeronáutica, professor do Instituto de Altos Estudos Militares e presidente da Junta de Energia Nuclear.

Todos estes homens, de ciência e gestores públicos, desempenharam papéis de relevância na política científica em Portugal ao longo do século XX, pela sua ligação direta com as políticas públicas de gestão da Ciência e desempenho de funções em organismos públicos, como o Instituto para a Alta Cultura (posteriormente Instituto de Alta Cultura), a Junta de Energia Nuclear ou a própria JNICT, antepassada da FCT, que conhecemos hoje.As vidas destes atores da política científica foram apresentadas por um conjunto de jovens investigadores convidados, especialistas em História da Ciência.

O encontro contou ainda com a participação de Leoncio López-Ocón, do Centro de Ciencias Humanas y Sociales do Consejo Superior de Investigaciones Científicas de Espanha, convidado que se deslocou a Lisboa para apresentar Santiago Ramón y Cajal (1852-1934), Prémio Nobel de Fisiologia, em 1906, mas também com um papel crucial na Junta para Ampliación de Estudios, congénere distante da Junta de Educação Nacional. Na sua intervenção, López-Ocón não deixou de evocar a importância que a obra de Cajal teve em Portugal, nomeadamente junto daquela que ficou conhecida como Geração Médica de 1911.

As conferências culminaram com um debate no último dia do encontro, centrado na questão da preservação documental aplicada à produção historiográfica, ao conhecimento e à reconstrução das histórias de vida dos cientistas a partir dos seus espólios documentais. Participaram no debate os investigadores José Pedro David Ferreira (filho do médico histologista David Ferreira) e Tiago Brandão, pelo IHC; Pedro Penteado, pela Direção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas; e Tiago Santos Pereira, coordenador do Gabinete de Estudos e Estratégia da FCT.

Com um modelo dinâmico, este encontro pretende estabelecer-se como acontecimento de referência na partilha das tendências recentes de investigação em história das ciências e, não menos importante, fórum privilegiado para debater e estimular as práticas arquivísticas – públicas e privadas -, como instrumentos para a construção da memória das ciências na época moderna e contemporânea.