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Presidente da FCT recebeu Prémio Maria de Lourdes Pintasilgo

O Instituto Superior Técnico realizou no passado dia 6 de dezembro a cerimónia de entrega do prémio Maria de Lourdes Pintasilgo. À semelhança de anos anteriores, a 5ª edição do prémio galardoou uma jovem recém-formada pela instituição cuja investigação tenha sido reconhecida pelo seu mérito científico e uma ex-aluna que, tendo concluído os estudos no Instituto Superior Técnico há mais de 15 anos, se tenha destacado pelo seu percurso profissional e/ou contribuições sociais. Nesta edição, o prémio foi atribuído por unanimidade, respetivamente, em cada categoria, a Maria Teresa Parreira, pela qualidade da investigação realizada na sua dissertação de mestrado e pelo envolvimento ativo em atividades de apoio ao estudante, e a Helena Pereira, presidente do Conselho Diretivo da FCT, pelo seu “esforço meritório de exercer exigentes cargos públicos de alto nível ao serviço da comunidade académica e científica” e pelo contributo para o “progresso da ciência” e para a “inovação tecnológica”, segundo o parecer do júri.

A criação e atribuição deste prémio, inteiramente no feminino, foi da responsabilidade do grupo de trabalho Gender Balance@Técnico, cujas intenções foram bem destacadas pela coordenadora do grupo, Beatriz Silva: perante um contexto de “sub-representação das mulheres nas áreas STEM”, criado e perpetuado por uma história de preconceitos de género – entre eles, a ideia de que “a engenharia é para homens”, tornando-se necessário implementar medidas ativas para contrariar estes desequilíbrios, das quais este prémio pretende ser um exemplo.

A figura que lhe dá o nome e o mote, Maria de Lourdes Pintasilgo, destacou-se, num tempo em que os papéis sociais da mulher estavam fortemente condicionados pelo regime, pela sua “afirmação no espaço dos homens”, nas palavras de Rogério Colaço, presidente do Instituto Superior Técnico, sendo uma de apenas 3 mulheres – de entre um corpo estudantil de cerca de 250 alunos – a estudar na instituição no final dos anos 40, e tendo-se tornado, ainda nos anos 50, a primeira mulher aceite nos quadros técnicos superiores da CUF, e, posteriormente,  afirmando-se na política como a única mulher, até hoje, a chefiar um governo em Portugal. No momento atual, em que “a igualdade de oportunidades entre géneros é ainda caminho a percorrer e não destino alcançado”, o presidente do Técnico. sublinhou a necessidade de continuar a luta pela igualdade de género. Mais do que apenas uma homenagem à figura de Maria de Lourdes Pintasilgo, o prémio pretende “contribuir para que esse caminho [da efetiva igualdade de género] continue a ser percorrido”, galardoando contribuições fulcrais de alunas e ex-alunas do Técnico para a ciência e a tecnologia, e dando, assim, destaque ao seu trabalho.

As premiadas atribuíram, também, grande importância a estes propósitos mais vastos do prémio. A jovem galardoada, Maria Teresa Parreira, destacou, naquilo a que chamou a vertente mais “política” do seu discurso, a ideia de que “não nos podemos reclinar nas nossas cadeiras e dar palmadinhas nos ombros de que o progresso que já está a ser feito está a ser feito na direção certa e não precisa de nós”. Por sua vez, Helena Pereira assinalou, nesta linha, o facto de reconhecer que o seu percurso, marcado por um lado pela passagem pelo Instituto Superior Técnico e pelo reconhecimento precoce da qualidade do seu trabalho por instituições nacionais e internacionais e, por outro, pela direção da FCT, contribuiu, nas suas palavras, para um “período fantástico de crescimento [da ciência] que temos vivido nos últimos 30 anos”, e terá “sido inspirador para alguns” – ou, poderíamos dizer, algumas.

Para além do indiscutível mérito pessoal, académico e profissional das premiadas, que sublinhado em todas as intervenções, todos intervenientes na sessão, desde os responsáveis da instituição promotora do prémio às próprias vencedoras, vincaram sempre a dimensão social e política relevante da promoção deste género de iniciativas, ainda necessárias apesar de, como destacou Rogério Colaço, estarmos já no século XXI. A intervenção de Maria Leonor Beleza, enquanto presidente da Fundação Champalimaud, desafia, mais uma vez, a maioria masculina em cargos de poder, coloca precisamente este ponto em questão, destacando a “desigual partilha [entre géneros] do poder nos níveis mais elevados”, apesar de, tendencialmente, haver mais mulheres com formação superior. Para encerrar a sessão, Manuel Heitor, na qualidade de Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, relevou o trabalho das premiadas, afirmando a necessidade de se continuar o debate em torno das questões de género, de modo a abordar as dimensões horizontal e vertical da desigualdade e de, perante a quase ausência de mulheres no topo da carreira docente, científica e empresarial “reconhecer aquelas que efetivamente tiveram o mérito de conseguir chegar ao topo” apesar das condições estruturais de desvantagem.